sábado, 24 de outubro de 2009

LESBIANISMO

POR QUE O LESBIANISMO É UMA FORMA LEGÍTIMA DE AMOR
Por Valéria Meirelles

A mulher atual possui inúmeras possibilidades de ser e estar no mundo. Uma delas envolve o relacionamento amoroso com outras mulheres. Historicamente, a homossexualidade feminina começou no século VII a.C, na Grécia Antiga. Na Ilha de Lesbos vivia a poetisa Safo, que cantava a beleza e o desejo que sentia por suas colegas.
Ainda que as relações entre indivíduos do mesmo sexo existam há milhares de anos, foi apenas em 1980 que a Associação Psiquiátrica Americana deixou de considerar o homossexualismo uma doença. Em 1993 foi a vez da Organização Mundial de Saúde. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina divulgou a mesma decisão em 1985, assim como o Conselho Federal de Psicologia.
Todos esses posicionamentos vieram para ajudar a desconsiderar o modelo heterossexual como única expressão da normalidade, uma vez que a homossexualidade e a heterossexualidade são orientações distintas do comportamento sexual humano e devem ser respeitadas. No entanto, ainda há muitas dificuldades, desde ordem legal até religiosa, pois muitas igrejas não apóiam a união entre pessoas do mesmo sexo.
Mesmo que a Constituição Brasileira no artigo 5º esclareça que "todos são iguais perante à lei sem distinção de qualquer natureza", a legislação não prevê o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que reflete diretamente em questões como herança ou pensão em caso de morte de um dos cônjuges e a inclusão na declaração do Imposto de Renda. Além desses casos, há ainda a questão da adoção de filhos, que se torna mais difícil quando ambos os pais são do mesmo sexo.
Para acabar com esses problemas, existem no Congresso Nacional projetos que cuidam da cidadania da comunidade Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (GLTT). Em 13 de maio de 2004, o Ministro da Saúde Humberto Costa, de acordo com a Portaria no. 880/GM dispôs sobre a criação do Comitê Técnico para a formulação de uma proposta para a Política Nacional de Saúde da População de Gays, Lésbicas, Transgêneros e Bissexuais.
Também neste ano, durante a 1ª. Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, foram feitas reivindicações pela união estável e por um novo conceito de família, além de terem sido discutidas políticas educacionais e de saúde voltadas às mulheres lésbicas e bissexuais.
Todo esse quadro acima é para dizer que em pleno século XXI, amar alguém do mesmo sexo e assumir esse amor perante à sociedade não é nada simples. Nas palavras da psicóloga Jane Paim dos Santos, "auto afirmar-se como gay ou lésbica representa antes de mais nada, um desafio e/ou um desacato ao mundo social discriminativo e segregacionista.". Por isso, hoje existem sites, grupos e Ongs que orientam e favorecem trocas de idéias, reflexões a respeito dessa realidade e oferecem apoio. Há ainda a anual Parada do Orgulho Gay que busca sensibilizar a sociedade para os GLTT.
De acordo com Shere Hite, famosa pesquisadora da sexualidade humana, "cerca de 15% das mulheres, no mundo inteiro, sentem prazer em ter relações com outra mulher ou mantém relação sexual estável com outra mulher", e mesmo assim, suas pesquisas revelam que as mulheres ainda sofrem mais preconceitos e são mais vulneráveis à exclusão social que os homens, pois a homossexualidade masculina revelou-se antes à sociedade do que a feminina.
Para Hite, as mulheres homossexuais permanecem marginalizadas, assim como ocorre com as heterossexuais em vários segmentos da sociedade. As lésbicas, segundo a autora, "carregam o duplo fardo de serem mulheres e gays".
Gary Sanders, psicoterapeuta norte-americano confirma as colocações acima e alerta para os fatores de risco da revelação da opção sexual, principalmente no ambiente de trabalho. Por isso muitas mulheres se mantêm na invisibilidade, o que não é bom para o estado emocional nem para a autoconfiança. Porque para uma pessoa estar bem consigo mesma é preciso que todas suas "partes" estejam integradas. Manter-se invisível é como negar uma parte de si e ainda que seja para proteção, invariavelmente acaba tendo efeito negativo para a própria pessoa que fica privada de externar um sentimento significativo. Convenhamos, todos nós gostamos de dizer nosso amor.
A homossexualidade é uma orientação que cada vez mais se legitima, ainda que existam restrições para àquelas que almejam a maternidade, o que não as impede de desejarem e ficarem muito felizes em formar uma família.
Segundo Hite, a *família gay é tão estável e produtiva quanto a família tradicional e a diversidade de escolhas sexuais e modos de vida é absolutamente saudável. Porque os cônjuges ou parceiros também querem que a relação perdure e investem nela, além do mais, pelo menos um deles trabalha e produz como todo cidadão, gerando renda. Daí que não há diferença neste ponto. O que vale é a capacidade para amar e aprender cada vez mais com esse amor, construindo histórias de respeito e felicidade, nas quais haja espaço para a celebração das diferenças e de um mundo mais justo e humano.
É fundamental que se olhe à homossexualidade e nesse caso, a feminina, como afiliação amorosa legítima. Como seres humanos e cidadãos, é preciso no mínimo aceitar o direito de uma pessoa ao amor, não importando se ocorre entre o mesmo sexo ou entre sexos diferentes. É preciso liberar-se de crenças tirânicas que em nada contribuem para o crescimento da sociedade.
À mulher atual, independente de sua classe social, religião ou profissão, cabe mais essa possibilidade, a de porta-voz de transformações e de um amor que até pouco tempo não ousava declarar seu nome.


"Todos os julgamentos são julgamentos para a vida inteira, da mesma forma como todas as sentenças são sentenças de morte".

Oscar Wilde

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