sábado, 24 de outubro de 2009

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
Dr Marco Aurélio Galletta

A CADA GERAÇÃO, A MENARCA VEM MAIS CEDO
Inicialmente, a mulher moderna amadurece cada vez mais cedo. A menarca, que é a idade da primeira menstruação na mulher, tem sido cada vez mais precoce, ao se considerarem os registros existentes nos últimos 100-200 anos. A cada geração que se passa, a menarca se faz, em média, alguns meses mais cedo. Para se ter uma idéia, em 1845, metade das mulheres ainda não tinham menstruado com a idade de 15 anos. Atualmente a menarca média situa-se por volta dos 12 anos, no Brasil. Possivelmente, melhores condições nutricionais responsabilizam-se por isso. No entanto, variações climáticas e maior exposição a estímulos sexuais visuais precocemente talvez também estejam relacionados, pois se sabe que mulheres de paises nórdicos, com dias curtos e longos invernos, e mulheres cegas, menstruam mais tardemente que as demais. Ora, se as mulheres estão menstruando mais cedo, também estão desenvolvendo características sexuais e se tornando biologicamente férteis mais precocemente do que antes. Se a mulher se torna atraente sexualmente mais cedo, é possível, a princípio, que ela também possa ter relações sexuais mais cedo e, assim, engravidar. Esta é uma boa razão para o aumento da gravidez na adolescência. Mas não é o único, afinal, nem toda mulher com capacidade para engravidar, acaba engravidando.

FATORES SOCIAIS CONTRIBUEM?
É bem verdade que a idade do início da vida sexual tem caído nos últimos anos, mas também é verdadeiro que isso depende muito do grupo social a ser considerado. Em mulheres de favelas do Rio de Janeiro, por exemplo, esta idade se situa por volta dos 12 - 13 anos. No entanto, entre jovens universitárias do Rio Grande do Sul, tal idade está ao redor dos 16 - 17 anos. Ou seja, neste último grupo de mulheres, apesar de estarem menstruando pelo mesmo tempo do que as outras, a opção pela primeira relação sexual foi mais tardia. Assim parece que os contextos social, cultural e econômico são também muito importantes.

ESTRUTURA FAMILIAR INFLUENCIA?
Adolescentes com casos de gestação na adolescência na família parecem ser de risco, para elas também serem gestantes nesta fase da vida, principalmente quando o “exemplo” vem da própria mãe. Outro fator de risco é a pertença a uma família desestruturada, com atritos entre os pais, e especialmente com ausência da figura paterna. Famílias de migrantes, em adaptação a um novo contexto cultural, também apresentam riscos para a presença de uma filha adolescente grávida.

FATORES ECONÔMICOS SÃO DETERMINANTES?
Classicamente se apresenta a situação econômica desfavorável como de risco para a gravidez na adolescência. Isso é algo controverso. Primeiro, porque muitas adolescentes de classe econômica mais favorecida também chegam a engravidar, mas a opção pelo abortamento é mais comum e há mais facilidade para o aborto clandestino efetivo, diminuindo assim a quantidade de partos nestas pacientes. Depois, muitas vezes o contexto econômico se relaciona com o social e o cultural. Infelizmente, a mulher mais pobre tem maior chance de ter uma família desestruturada, migrante, com antecedentes de gestação na adolescência. Além disso, a jovem de tal família tem, muitas vezes, menor escolaridade e acesso dificultado aos serviços de saúde, outros dois fatores de risco conhecidos.

EDUCAÇÃO PODE PREVENIR
A menor escolaridade funciona como fator de risco de duas maneiras. Na primeira, temos menor esclarecimento sobre os métodos anticoncepcionais e um menor entendimento sobre o mundo e sobre sua própria saúde. Num segundo aspecto, a interrupção dos estudos indica falta de perspectiva de vida, principalmente na dita vida social, surgindo poucos planos para o futuro, para sua própria vida. Este é um aspecto que tem chamado nossa atenção nos últimos anos, tanto no Hospital das Clínicas, como em outros locais. Geralmente, a adolescente que engravida já tinha parado seus estudos antes da gravidez, ou faz isso nos primeiros meses da gestação, muitas vezes porque não gostava da escola e não tinha grandes perspectivas de vida, além da possibilidade de ser mãe e dona-de-casa.

ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE
Por outro lado, o não acesso aos serviços de saúde e, assim aos métodos anticoncepcionais, ocorre de duas formas. O não acesso aos serviços de saúde ocorre inicialmente pelo fato muito comum destas jovens morarem em locais distantes, com poucos serviços de saúde à sua disposição. No entanto, a falta de escolaridade contribui ainda mais para ausência de cuidado médico, pois sem esclarecimento, a jovem não percebe a importância do cuidado com a saúde e acaba não fazendo nada neste sentido. Mas, por outro lado, os serviços médicos também não estão estruturados para receberem as adolescentes. A atenção para com elas seria mais de prevenção e orientação e a estrutura está montada mais no aspecto curativo e de assistência às doenças. Assim, tais jovens não procuram assistência, por não acharem isso importante, e a assistência acaba não sendo feita por não estar de acordo com a expectativa da clientela, ou seja, as próprias adolescentes. O não acesso aos serviços de saúde também acaba se relacionando com o desconhecimento e o não uso de anticoncepcionais, fazendo com que a vida sexual destas jovens esteja ainda mais predisposta à gravidez.

TODOS PODEM AJUDAR
Na verdade, a orientação quanto à sexualidade e aos métodos anticoncepcionais é falha em varias instâncias. Tal orientação não necessitaria ser dada apenas pelos profissionais da saúde. A escola e a família poderiam se responsabilizar por isso, mas geralmente não o fazem e, no caso específico das pacientes que atendemos no Hospital das Clínicas, há grande dificuldade de tal orientação vir da família e da escola, pois a jovem está, via de regra, fora da escola e não tem uma família estruturada para apóia-la e orientá-la. O papel do pai neste contexto é fundamental, pois deveria representar o limite, a autoridade, a responsabilidade, valores e qualidades que muito ajudam no correto desenvolvimento não só da sexualidade, como também de todo convívio social do jovem. Neste sentido, sabemos que o conhecimento dos métodos anticoncepcionais, por si só, não representa proteção. Na, maioria das gestantes adolescentes, elas conheciam os métodos, mas não os souberam usar no momento certo. A emoção superou a razão, o que comprova que não havia maturidade suficiente para o exercício responsável da sexualidade. O aprendizado ainda estava por se completar, infelizmente.


Métodos Anticoncepcionais em Adolescentes
Dr. Marco Aurélio Galletta

Uma coisa que muitos me perguntam é por que há tanta adolescente grávida se há tanta informação sobre os métodos anticoncepcionais. Se você entrar na Internet e fizer um mecanismo de busca, vai achar de 2 a 3 mil citações para contracepção em nossos sites brasileiros. Se você ligar a TV, vai ter a informação em programas especiais ou até mesmo em novelas e noticiários. Jornais, revistas para adolescentes, outdoors, praticamente toda a mídia que nos envolve já falou e continua falando sobre os métodos anticoncepcionais. Isto está na conversa das escolas, nas danceterias, nos bares. Até as crianças já ouviram falar de camisinha!...
Lembro-me de um rapaz que, ao dar a notícia em casa de que seria pai aos 15 anos, ouviu da própria irmã, de 8 anos, a reprimenda: “Poxa, você é um bobo! Por que não usou camisinha?!”
Realmente, se uma menina de 8 anos sabe, todo mundo sabe! Assim, é muito interessante esta pergunta: Por que então nossas jovens engravidam tão cedo? Afinal, são cerca de 1 milhão de mulheres abaixo dos 20 anos que engravidam anualmente no Brasil, com aproximadamente 700.000 partos na rede SUS. É muita coisa! E ainda por cima, sabemos que é a única faixa etária com aumento na taxa de natalidade no Brasil. Todas as outras faixas etárias apresentam nítida queda no número de filhos por ano, pois têm um melhor planejamento familiar. Assim, só mantendo o número de partos, sem haver queda, já temos uma participação cada vez maior das adolescentes no número total de partos em nosso país.
Em meu trabalho no Hospital das Clínicas, noto que as adolescentes grávidas que atendo sabem o suficiente sobre anticoncepção. Noventa e dois por cento delas conhecem pelo menos um método anticoncepcional e 60% delas conhecem mais do que 3 métodos. Mais da metade delas já tinha usado algum método e – pasmem! – a média de uso foi de 8 meses!...Destes dados, percebe-se que tais jovens tinham informação... mas engravidaram! Então o que foi que aconteceu?
Acontece que grande parte de minhas pacientes adolescentes desejava a gravidez!
Em trabalho realizado no Setor em 1998 (e que ganhou um prêmio, na época), 60 % destas jovens do HC desejavam a gravidez, enquanto 25% (um quarto) tinham planejado a gravidez e apenas 7% não queriam a gravidez e não aceitavam este fato.Com estes dados, fica claro que a questão não é a informação, ou a falta dela. Há algo muito mais complexo por trás disso.
Tudo tem seu tempo na vida!... A adolescente muitas vezes não tem a maturidade necessária para a vida sexual.
Aspectos Psicológicos nos Jovens
O que atrapalha a adolescente no uso dos métodos anticoncepcionais são suas características psicológicas.A primeira delas é o imediatismo, ou seja, para o adolescente é tudo para hoje, não há amanhã. Assim, ele facilmente se deixa levar pela emoção do momento, sem refletir adequadamente sobre o que deve fazer.
Assim, ele nunca lembra de usar a camisinha ou tomar a pílula.
Outra característica é a onipotência: o adolescente pode tudo! Ele sabe tudo e não precisa de ninguém. Assim, facilmente ele esquece de perguntar como é que se usa direito o método que ele está usando. Prefere engravidar do que “pagar o mico“ de perguntar se é necessário apertar a ponta da camisinha.
Outro aspecto muito associado com este é o pensamento mágico: o adolescente sempre pensa que com ele isso não vai acontecer! Pelo raciocínio ele sabe que há um risco envolvido, mas ele fantasia sobre isso a ponto de acreditar que o risco, para ele, não existe. É como ele se sentisse o Super-Homem, ou a Mulher Maravilha, cheios de poderes!
Por fim, o adolescente está em busca de seus limites e sempre tenta ultrapassá-los, apesar dos riscos envolvidos nisso. É como se prendesse a respiração embaixo d’água várias e sucessivas vezes, como para testar o quanto ele agüenta sem ar. Se hoje consegue ficar 1 minuto deste jeito, amanhã ele vai tentar ficar 2 minutos e daí por diante. Até que, num belo dia ele fica sem usar camisinha uma vez para ver o que acontece. Não acontecendo nada, ele repete a dose, até que algo realmente aconteça.
Por essas e por outras que a atividade sexual na adolescência é sempre complicada e arriscada. E é por isso que as campanhas do governo, de distribuição de camisinhas e pílulas, geralmente não dão resultado. Não basta ter a camisinha na mão, é preciso saber - e querer – usar direito!
Um último aspecto é ainda mais delicado e complexo.
Quase toda mulher tem o desejo de engravidar. A adolescente também tem este desejo dentro de si. Então por que a maioria das mulheres jovens não engravida? Porque elas têm um projeto de vida que as faz adiar esta idéia de serem mães. Agora, imagine se a menina não tem perspectivas de estudo, de realização profissional, em suma, não tem um sonho mais concreto para sua vida. O que lhe impede de ser mãe? Nada!... ou quase nada...Se ela tivesse um adulto em quem confiasse e que lhe ajudasse a nortear suas decisões, as coisas ficariam mais fáceis. No entanto, a maioria das nossas adolescentes grávidas não tem um bom relacionamento nem com o pai, nem com a mãe, e a maioria já saiu da escola e não tem amigos. Com quem então falar, para pedir conselhos? Quem a ajudará a tomar decisões acertadas, a não se levar pelo impulso? Quem ajudará a dar limites, a dizer que por aí não, porque é muito perigoso? Ninguém...
Por essas e por outras é que há muitas adolescentes grávidas. Seu número não tende a cair tão fácil, simplesmente porque o problema não é só delas, mas sim de todos nós.


O contrato de casamento
Stephen Kanitz - Revista Veja – 26/09/04

Na semana passada, comemorei trinta anos de casamento. Recebemos dezenas de congratulações de nossos amigos, alguns com o seguinte adendo assustador: "Coisa rara hoje em dia". De fato, 40% de meus amigos de infância já se separaram, e o filme ainda nem terminou. Pelo jeito, estamos nos esquecendo da essência do contrato de casamento, que é a promessa de amar o outro para sempre. Muitos casais no altar acreditam que estão prometendo amar um ao outro enquanto o casamento durar. Mas isso não é um contrato.
Recentemente, vi um filme em que o mocinho terminava o namoro dizendo "vou sempre amar você", como se fosse um prêmio de consolação. Banalizamos a frase mais importante do casamento. Hoje, promete-se amar o cônjuge até o dia em que alguém mais interessante apareça. "Eu amarei você para sempre" deixou de ser uma promessa social e passou a ser simplesmente uma frase dita para enganar o outro. Contratos, inclusive os de casamento, são realizados justamente porque o futuro é incerto e imprevisível.
Antigamente, os casamentos eram feitos aos 20 anos de idade, depois de uns três anos de namoro. A chance de você encontrar sua alma gêmea nesse curto período de pesquisa era de somente 10%, enquanto 90% das mulheres e homens de sua vida você iria conhecer provavelmente já depois de casado. Estatisticamente, o homem ou a mulher "ideal" para você aparecerá somente, de fato, depois do casamento, não antes. Isso significa que provavelmente seu "verdadeiro amor" estará no grupo que você ainda não conhece, e não no grupinho de cerca de noventa amigos da adolescência, do qual saiu seu par. E aí, o que fazer? Pedir divórcio, separar-se também dos filhos, só porque deu azar?
O contrato de casamento foi feito para resolver justamente esse problema. Nunca temos na vida todas as informações necessárias para tomar as decisões corretas. As promessas e os contratos preenchem essa lacuna, preenchem essa incerteza, sem a qual ficaríamos todos paralisados à espera de mais informação. Quando você promete amar alguém para sempre, está prometendo o seguinte: "Eu sei que nós dois somos jovens e que vamos viver até os 80 anos de idade. Sei que fatalmente encontrarei centenas de mulheres mais bonitas e mais inteligentes que você ao longo de minha vida e que você encontrará dezenas de homens mais bonitos e mais inteligentes que eu. É justamente por isso que prometo amar você para sempre e abrir mão desde já dessas dezenas de oportunidades conjugais que surgirão em meu futuro. Não quero ficar morrendo de ciúme cada vez que você conversar com um homem sensual nem ficar preocupado com o futuro de nosso relacionamento. Nem você vai querer ficar preocupada cada vez que eu conversar com uma mulher provocante. Prometo amar você para sempre, para que possamos nos casar e viver em harmonia".
Homens e mulheres que conheceram alguém "melhor" e acham agora que cometeram enorme erro quando se casaram com o atual cônjuge esqueceram a premissa básica e o espírito do contrato de casamento. O objetivo do casamento não é escolher o melhor par possível mundo afora, mas construir o melhor relacionamento possível com quem você prometeu amar para sempre. Um dia vocês terão filhos e ao colocá-los na cama dirão a mesma frase: que irão amá-los para sempre. Não conheço pais que pensam em trocar os filhos pelos filhos mais comportados do vizinho. Não conheço filho que aceite, de início, a separação dos pais e, quando estes se separam, não sonhe com a reconciliação da família. Nem conheço filho que queira trocar os pais por outros "melhores". Eles aprendem a conviver com os pais que têm.
Casamento é o compromisso de aprender a resolver as brigas e as rusgas do dia-a-dia de forma construtiva, o que muitos casais não aprendem, e alguns nem tentam aprender. Obviamente, se sua esposa se transformou numa megera ou seu marido num monstro, ou se fizeram propaganda enganosa, a situação muda, e num próximo artigo falarei sobre esse assunto. Para aqueles que querem ter vantagem em tudo na vida, talvez a saída seja postergar o casamento até os 80 anos. Aí, você terá certeza de tudo.

Questão: a partir dos textos, respondam como a sociedade moderna tem influenciado os relacionamentos amorosos, a sexualidade e as perspectivas dos jovens em relação ao casamento? O que há de diferente e semelhante, por exemplo, em às suas escolhas e as escolhas dos seus pais?

Um comentário:

  1. Vivemos em um momento na história chamado 'Niilismo'. Ninguém quer nada,não luta por nada, não busca mais nada.Apenas quer gozar da vida (consumindo). Mesmo sabendo do tema bastante difundido, pode vir a engravidar. O arrependimento e as dificuldades batem a porta, e a garota que devia estar na escola, esta à casa para atendê-los.

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