sexta-feira, 6 de novembro de 2009

OS ROBOCOPS TOMARÃO NOSSO PLANETA?

A discussão que hoje se trava com mais intensidade entre os pensadores, filósofos, intelectuais deste mundo tecnocêntrico é a comparação entre o homem e a máquina. Nos Estados Unidos, há um centro de pesquisas com um grupo de pensadores preocupados com a questão da inteligência artificial. Eles acham que a máquina já superou o homem em muitas de suas atividades e pode tornar-se mais perfeita do que ele em praticamente todas. Partem do princípio de que o modo de pensar humano é baseado numa lógica identificável e que a partir de seu conhecimento, os robôs poderão apropriar-se deste procedimento e assim ultrapassar com vantagem o homem, na medida em que não terão seus aspectos negativos: perversidades, fraquezas, formas de corrupção, imoralidade, desonestidade, deslealdade entre outras.
Os pesquisadores norte-americanos chamados de “conexionistas” investigam inclusive a ligação possível entre homem e máquina por meio de um sofisticado sistema de neurônios que, de certa forma, imitaria o cérebro humano e permitiria às máquinas, com suas vantagens, pensar como homens. A ficção científica está cheia desses exemplos, que incorporam seres Robocops e todos esses andróides que povoam muitos filmes atuais.
Mas a discussão está marcada por um equívoco fundamental, provocado por um conjunto de informações erradas e também por uma concepção de mundo que não corresponde à realidade dos fatos. Geralmente, reduz-se o pensamento humano àquelas regras lógicas e elementares que os homens usam para raciocínios simples, como as lógicas matemáticas, as lógicas elementares de dedução e indução, entre outras, e parte-se do princípio que dominando essas lógicas chegar-se-ia a um aperfeiçoamento do homem através do seu duplo, a máquina.
O grande equívoco está no fato de que se toma aquilo que é uma invenção humana, fabricada para ser prolongamento do homem, para lhe facilitar as funções, como um equivalente do homem. É natural que em muitas atividades a máquina seja superior ao homem. Mas isto não se refere apenas aos computadores de quinta geração, que hoje dominam o mercado com seus dotes fascinantes. O automóvel, quando foi criado, superava o homem em seu caminhar, assim como o transporte por carruagem, na medida em que era mais rápido, mais confortável, melhor para o homem. E assim é com os demais equipamentos técnicos utilizados para executar trabalhos de forma mais eficaz que os homens. Até aí nada de novo.
Ocorre que o homem não se limita às funções elementares. É também um complexo de indeterminações, e isso o torna fascinante. Pode-se dizer que um computador seja capaz de pintar uma tela, de compor uma música, de fazer um poema, de escrever um livro. Isso nunca deixará, entretanto, de ser obra de computador. Será o resultado de um conjunto de informações dadas por homens, sobre as quais ele vai trabalhar e até criar. Mas é uma criação que parte de uma esterilidade técnica.
O homem, ao contrário, é total imprevisibilidade. Ele é racionalidade misturada com irracionalidade, sanidade com loucura, positividade com negatividade. Em suma, ao mesmo tempo que pode ser uma criatura racional, coerente, lógica, eficiente, também pode ser um sujeito carregado de dores, sofrimentos, ilusões, tristezas, angústias, melancolias.
Tudo isso faz parte de um espaço de liberdade que o homem tem exatamente por ser criador. A máquina também cria, de certa maneira. Ela caria a partir daqueles processos lógicos e matemáticos citados, a partir de dados que lhe são fornecidos. Ela desdobra esses dados e cria infinitamente novas possibilidades a partir deles, além de poder corrigir suas falhas e superá-las na medida em que aparecem num processo de permanente auto-reprogramação.
Mas o que distingue exatamente um ser vivo de um robô é aquilo que em todas as formas de cultura caracterizou uma intervenção humana num sentido absolutamente original. Uma máquina pode imitá-lo em todas as funções, mas lhe falta capacidade de converter-se em ser humano. Todas as imitações serão sempre formas derivadas de uma matriz que está fora da máquina. Só o homem é capaz de fantasiar, imaginar, produzir a partir do nada e também a partir de uma quantidade infinita de informações.
O homem, que criou a máquina e que a vê progredindo cada vez mais, desenvolvendo-se, superando suas próprias expectativas, há de constatar, em qualquer época, que ela não será um novo escravo. Não se repetirá, como na passagem de teocentrismo para o antropocentrismo, uma revolta da criatura contra seu criador, exatamente porque tanto a divindade quanto esse conjunto de sistemas técnicos e informáticos que temos aqui são, apesar da contestação da religião, obras do homem.

CIRO MARCONDES FILHO

Nenhum comentário:

Postar um comentário