quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A origem da sociedade capitalista - Paulo Meksenas

É importante inicialmente nos fixarmos na Europa dos séculos IV a XIV (301-400 a 1301-1400 d.C.), pois foi esse período que deu origem à nossa sociedade atual.
Sabemos que no período citado, a Europa era um continente onde a organização econômica principal girava em torno da terra e da propriedade da terra. O modo de vista era ligado ao trabalho rural, principalmente fonte de organização social.
Por ser a terra fonte de riquezas é que os seus poucos proprietários se tornavam poderosos: a camada dominante dos senhores feudais, que compreendia a nobreza e o alto clero. Por outro lado existia uma imensa maioria de pessoas forçadas a trabalhar nas terras da nobreza feudal para sobreviver, pagando tributos pelo uso dessa terra: a camada dos servos, que compreendia uma imensa população de trabalhadores pobres.
Nessa sociedade de base agrária, o modo de vida era completamente diferente do que é hoje em dia: pouco comércio, cidades quase não existiam, eram poucos mais que pequenas aldeias, o pensamento religioso moldava a vida da maioria das pessoas.
A partir do século XIV, esse mundo começará a se transformar rapidamente. É essa transformação que nos interessa, pois, de mundo agrário, a Europa caminhou para o mundo urbano-industrial. Essa mudança não ocorreu em pouco tempo, foram no mínimo três séculos para que ela se completasse. No entanto, como foi uma mudança social radical, muitos a chamaram de revolução.
Essa revolução que levou a Europa do feudalismo ao capitalismo teve muitas dimensões e momentos. Em primeiro lugar, foi uma revolução econômica, pois a organização do trabalho se alterou profundamente: da sociedade estratificada em apenas dois grandes estamentos, surgiu um novo grupo social muito importante, a camada dos comerciantes e artesãos livres: pessoas que, a partir do século XIV, já não dependiam mais da terra, e sim de atividades puramente urbanas. Dos artesãos e comerciantes mais poderosos, surgem aqueles que passam a investir grandes somas de riqueza em manufaturadas. Essas manufaturadas, na verdade, eram as primeiras indústrias, ainda primitivas, mas que já se caracterizavam pela divisão interna de funções, o trabalho parcelado em inúmeras atividades a partir da introdução de novas e melhores máquinas e técnicas. Cada operador de máquinas já não elabora o produto por inteiro, mas apenas uma peça que, somada às peças de outros operadores isolados, dá origem ao produto final. É a divisão social do trabalho. Assim, ao entrarmos nos séculos XVIII e XIX, teremos as fases da Revolução Industrial, que foi a dimensão econômica da revolução que deu origem ao capitalismo.
Esse modo de produção, que se originou do comércio e da manufatura, foi o responsável pelo desenvolvimento de novas invenções, técnicas, aumento das atividades, dando origem à moderna indústria. A intensa urbanização do nosso século é fruto desse processo e o aparecimento de classes sociais também o é agora sob a sociedade capitalista, a fonte de riquezas não é mais a terra, mas sim a propriedade de fábricas, máquinas, bancos, isto é, a propriedade dos meios de produção. Assim, os poucos proprietários dos meios de produção se constituem na classe empresarial (burguesia), enquanto uma imensa maioria de pessoas não-proprietárias se constitui na classe trabalhadora (proletariado), que, para sobreviver, troca sua capacidade de trabalho por salário.
Em segundo lugar, foi uma revolução política, pois a antiga nobreza feudal perdeu o domínio para a classe burguesa, economicamente mais forte. Enquanto no feudalismo persistiu uma política que representava os interesses dos senhores feudais e do clero, serão agora os empresários que passarão a organizar a política e, a partir daí, nasce o Estado moderno, isto é, nascem as formas de governo eleitas pelo voto e regidas por uma Constituição. Nasce o parlamento. Todas essas novas dimensões da política burguesa devem dar a aparência de que o Estado, acima dos interesses de classe, vem organizar democraticamente a sociedade. Nasce assim a democracia burguesa.
Em terceiro lugar, foi uma revolução ideológica e científica, pois a visão de mundo sob o capitalismo se alterou: a idéia de progresso se propaga, como também a idéia de enriquecimento. A vida, dinâmica e competitiva, faz nascer o sentimento de individualismo. A ciência, como já aprendemos, se origina a partir de novos métodos de interpretação da natureza. A partir da observação dos fatos, decomposição em partes (análise) e de sua recordenação (síntese) se interpreta uma natureza regida por leis. Isso possibilita, com uma série de novos inventos, grande domínio do ser humano sobre a natureza, nunca visto antes na história da civilização.
(Meksenas, Paulo, Sociologia p. 43-44)


Questões para serem desenvolvidas em duplas ou trios:

1 – Sintetizar os três tipos de revolução que ocorreram na passagem da Europa feudal para a capitalista.

2 – A ciência possibilitou um grande domínio do homem sobre a natureza. Cite e comente três conseqüências desse fato para a sociedade e o mundo modernos.

3 – Identifique e caracterize as classes sociais de que fala o texto.

4 – Defina os termos abaixo (pesquise em livros de História, Filosofia ou Sociologia)

a) manufatura
b) modo de produção
c) meios de produção
d) Revolução
e) Ciência
f) Revolução Industrial
g) Estado

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