segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

CULTURA II - Textos

6. Indústria cultural e cultura de massa

(...) A partir da segunda revolução industrial no século XIX e prosseguindo no que se denomina agora sociedade pós-industrial ou pós-moderna (iniciada nos anos 70 de nosso século), as artes foram submetidas a uma nova servidão: as regras de mercado capitalista e a ideologia da indústria cultural, baseada na idéia e na prática do consumo de “produtos culturais” fabricados em série. As obras de arte são mercadorias, como tudo o que existe no capitalismo.
Perdida a aura, a arte não democratizou, massificou-se para consumo rápido no mercado da moda e nos meios de comunicação de massa, transformando-se em propaganda e publicidade, sinal de status social, prestígio político e controle cultural.
Sob os efeitos da massificação da indústria e consumo culturais, as artes correm o risco de perder três de suas principais características:
1. de expressivas, tornarem-se reprodutivas e repetitivas;
2. de trabalho da criação, tornarem-se eventos para consumo;
3. de experimentação do novo,
4. tornarem-se consagração pela moda e pelo consumo.
A arte possui intrinsecamente valor de exposição ou exponibilidade, isto é, existe para ser contemplada e fruída. É essencialmente espetáculo, palavra que vem do latim e significa: dado à visibilidade. No entanto, sob o controle econômico e ideológico das empresas de produção artística, a arte se transformou em seu oposto: é um evento para tornar invisível a realidade e o próprio trabalho criador das obras. É algo para ser consumido e não para ser conhecido, fruído e superado por novas obras.
As obras de arte e de pensamento poderiam democratizar-se com os novos meios de comunicação, pois todos poderiam, em princípio, ter acesso a elas, conhecê-las, incorporá-las em suas vidas, criticá-las, e os artistas e pensadores poderiam superá-las em outras, novas.
A democratização da cultura tem como precondição a idéia de que os bens culturais são direito de todos e não privilégio de alguns. Democracia cultural significa direito de acesso e de fruição das obras culturais, direito à informação e à formação culturais, direito à produção cultural.
Ora, a indústria cultural acarreta o resultado oposto, ao massificar a Cultura. Por quê?
Em primeiro lugar porque separa os bens culturais pelo seu suposto valor de mercado: há obras “caras” e “raras”, destinadas aos privilegiados que podem pagar por elas, formando uma elite cultural; e há obras “baratas” e “comuns”, destinadas à massa. Assim, em vez de garantir o mesmo direito de todos à totalidade da produção cultura, a indústria cultural introduz a divisão social entre elite “culta” e massa “inculta”. O que é a massa? É um agregado sem forma, sem rosto, sem identidade, e sem pleno direito à Cultura.
Em segundo lugar, porque cria a ilusão de que todos têm acesso aos mesmos bens culturais, cada um escolhendo livremente o que deseja, como o consumidor num supermercado. No entanto, basta darmos atenção aos horários dos programas de rádio e televisão ou ao que é vendido nas bancas de jornais e revistas para vermos que, através dos preços as empresas de divulgação cultural já selecionaram de antemão o que cada grupo social pode ou deve ouvir, ver ou ler.
No caso dos jornais e revistas, por exemplo, a qualidade do papel, a qualidade gráfica de letras e imagens, o tipo de manchete e de matéria publicada definem o consumidor e determinam o conteúdo daquilo a que terá acesso e tipo de informação que poderá receber. Se compararmos, numa manhã, cinco ou seis jornais, perceberemos que o mesmo mundo – este no qual todos vivemos – transforma-se em cinco ou seis mundos diferentes ou mesmo opostos, pois um mesmo acontecimento recebe cinco ou seis tratamentos diversos, em função do leitor que a empresa jornalística pretende atingir.
Em terceiro lugar, porque inventa uma figura chamada “espectador médio”, “ouvinte médio”, e “leitor médio”, aos quais são atribuídas certas capacidades mentais capacidades mentais “médias”, certos gostos “médios”, oferecendo-lhes produtos culturais “médios”. Que significa isso?
A indústria cultural vende Cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter informações novas que o perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez. A “média” é o senso comum cristalizado que a indústria cultural devolve com cara de coisa nova.
Em quarto lugar, porque define a Cultura como Lazer e entretenimento, diversão e distração, de modo que tudo o que nas obras de arte e de pensamento significa trabalho da sensibilidade, da imaginação, da inteligência, da reflexão e da crítica não tem interesse, não “vende”. Massificar é, assim, banalizar a expressão artística e intelectual. Em lugar de difundir e divulgar a Cultura, despertando interesse por ela, a indústria cultural realiza a vulgarização das artes e dos conhecimentos.

CHAUÍ, Marilena, Convite à Filosofia, Editora Ática, São Paulo, 1997.


7. Etnocentrismo e relativismo cultural

Até o início do século passado, cientistas sociais europeus afirmavam que a cultura eram criações conscientes e racionais que tinham como objetivo a melhoria da vida do homem. Para eles, algumas sociedades alcançaram um estágio muito superior às demais porque tinham conseguido criar artefatos mais sofisticados ou manifestações espirituais mais complexas. Para os defensores dessa posição, uma sociedade que conseguiu gerar manifestações artísticas como os quadros de Leonardo ou as obras literárias de Shakespeare deveria estar num estágio bem superior àquelas cujas manifestações artísticas não passavam de toscas esculturas em pedra ou argila. Chegavam mesmo a proclamar que tais diferenças culturais eram expressões da inteligência superior dos europeus.
No fundo, o que aqueles estudiosos estavam fazendo era estabelecer uma hierarquia entre as sociedades e colocando as sociedades urbanas industriais da Europa ocidental no cume da pirâmide. Para eles, todas as culturas deviam trilhar os mesmos caminhos. Aquelas que estivessem num estágio mais adiantado seriam superiores.
Nas ciências sociais, a visão que coloca uma cultura como superior e que deve servir de modelo para a evolução das demais é conhecida como etnocentrismo. A visão etnocêntrica trouxe trágicas conseqüências; muitas atrocidades contra os povos dos continentes americano, africano e asiático foram feitas em nome da suposta superioridade cultural dos europeus.
A crítica ao etnocentrismo começou a ser feita ainda no século XIX com o antropólogo alemão Franz Boas e continuou com Lévi-Strauss no nosso século. Eles defendiam que cada cultura deve ser analisada em função de seus próprios princípios, e as diferenças entre elas nada têm a ver com graus de inteligência. Portanto, não existem culturas superiores ou inferiores. Todas as culturas representam formas encontradas por uma determinada comunidade para resolver seus problemas. Assim, não faz sentido dizer que nossa sociedade é culturalmente superior à dos indígenas apenas porque conseguimos lançar foguetes ao espaço. Nas sociedades indígenas não há menores abandonados, famílias morrendo de fome convivendo com outras morrendo de tanto comer, nem prostituição.
A partir da crítica ao etnocentrismo surgiu uma corrente de pensamento denominada de relativismo cultural. Para essa corrente, os traços culturais de uma sociedade só podem ser entendidos de acordo com os padrões vigentes nessa mesma sociedade. Inexiste, portanto, a possibilidade de se comparar valorativamente duas culturas diferentes.


8. Cultura jovem

Com a explosão demográfica e a expansão econômica dos EUA, durante e após a Segunda Guerra Mundial, a população jovem norte-americana aumentou consideravelmente. Apesar do progresso e da industrialização, a sociedade norte-americana permaneceu com valores morais arcaicos e preconceituosos, criando um vazio e uma insatisfação na juventude, principalmente classe média.
É dentro desse contexto que surge uma cultura própria da juventude, reflexo de suas tendências comportamentais de revolta, expressa principalmente pela música, de forma individualizada ou em pequenos grupos. A partir daí começa a se configurar a formação de um mercado consumidor constituído basicamente por jovens de diferentes classes sociais.
Foi a partir dos anos 60 que a juventude passou a apresentar críticas mais contudentes à sociedade moderna, não só negando os seus valores, mas tentando criar e vivenciar um estilo de vida alternativo e coletivo, contra o consumismo, a industrialização indiscriminada, o preconceito racial, as guerras etc. Com isso, essa juventude mais crítica e politizada nega a cultura vigente, até então sustentada e manipulada em sua maior parte pela indústria cultural. Essa reação jovem é conhecida como “contracultura”, simbolizada principalmente pelos hippies, mas que para alguns voltaria a se repetir de maneira diferente com os punks no final dos anos 70.
Mesmo se opondo à industrialização da cultura, é através da indústria cultural que esses movimentos jovens acabam se expandindo e se deixando assimilar. Por um lado, introduzem temas e questões até então ignorados ou pouco discutidos pela maioria da sociedade, como, por exemplo: drogas, sexo, racismo, ecologia, pacifismo e outros. Por outro lado, evidenciam o aspecto transformador da cultura jovem que, expressando uma visão crítica da realidade, acaba por modificá-la, mesmo estando submetida a um rígido processo de industrialização e comercialização.

Antônio Carlos Brandão e Milton Fernandes Duarte, Movimentos culturais de juventude.


9. Aculturação

Trata-se de aculturação quando duas culturas distintas ou parecidas são absorvidas uma pela outra formando uma nova cultura diferente. Além disso, aculturação pode ser também a absorção de uma cultura pela outra, onde essa nova cultura terá aspectos da cultura inicial e da cultura absorvida.
Um exemplo típico desse fenômeno é a cultura romana que logo por ser tão similar à grega torna-se praticamente uma cultura denominada como cultura greco-romana. Esse tipo de fenômeno acontece graças à convivência com outras culturas.
Outro exemplo, os ameríndios, de um modo geral, assimilaram o cavalo no seu modo de vida; no entanto, os índios Soshone não os conseguem criar visto o seu território não proporcionar o pasto necessário.
A aculturação é, basicamente, o resultado das relações culturais que podem ser de ordem diversa:

Fusão Cultural
Ocorre quando os elementos culturais de duas ou mais culturas se misturam de tal modo que dão origem a outra cultura como aconteceu, por exemplo, no México: a cultura asteca nativa fundiu-se com a cultura espanhola invasora dando origem à atual cultura mexicana.


Segregação ou Apartheid (racial e cultural)
Este é o nome que se dá à recusa política de aculturação, provocando uma cisão entre cultura nativa e invasora. Se esta cisão for de natureza comercial chama-se autarcia.
Qualquer um destes fenômenos são absolutamente negativos, tentando deter, em vão, a dinâmica social.

Sincretismo
Ocorre quando se fundem características de divindades e/ou outros elementos religiosos de sistemas religiosos absolutamente diferentes, dando origem a divindades ou elementos novos.

Estas relações incluem, regra geral, a existência de agentes de aculturação tais como:

Atividade Missionária
Esta não se limita ao cristianismo, mas a todas as religiões estruturadas em igrejas, e que têm como objetivo mudar outras culturas nas suas vertentes religiosas, podendo incluir outros elementos culturais contrários aos seus princípios religiosos. Os missionários atuam diretamente sobre as pessoas, a título individual, e indiretamente sobre as instituições.

Comércio
Um dos veículos mais comuns e fomentador de trocas culturais é exatamente o comércio, sendo que a própria expansão territorial tem em vista alargar mercados comerciais, obter matérias-primas a baixo custo, etc.

Colonialismo
Trata-se do domínio de um povo ou região por um grupo de colonos, imigrantes. Este é um princípio muito semelhante ao Imperialismo, que implica também um domínio cultural e político diretamente imposto pelo país de origem dos colonos. Estes dois agentes de aculturação apóiam muitas vezes no extermínio e na assimilação (dos dominados pelos dominantes) para atingir um equilíbrio relativo.
O Colonialismo na forma de reservas é um modo das forças dominantes controlarem os nativos através de instituições político-administrativas impostas. São medidas polêmicas, pois, enquanto pretendem garantir território aos nativos e protegê-los, promovem o isolamento forçado, permitindo conter reações de descontentamento à sua situação por parte dos nativos, e o extermínio incontrolado destes.



Bibliografia básica sobre Cultura:

CHAUÍ, Marilena, Convite à Filosofia, Editora Ática, São Paulo, 1997.
FERREIRA, Roberto Martins. Sociologia da Educação/ São Paulo; Moderna, 1993.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de, Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 9ª edição, 1994.
TOMAZI, Nelson Dacio (coord. et al.) Iniciação à Sociologia, São Paulo, Atual, 1993.

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